sexta-feira, 4 de maio de 2012

CUIDADO PARA NÃO VESTIR AS MÁSCARAS DA FALSIDADE FARISAICA

Desde pequeno, quando ia à igreja por influência da minha vózinha, eu sempre percebi algo diferente entre os que se chamavam “evangélicos”. Algo nunca me soou bem aos ouvidos. Sempre fui uma criança questionadora desde muito cedo. Na Escola Dominical eu transbordava perguntas das mais diversas ordens às professoras. Perguntas que muitas vezes ficaram sem respostas. Na medida com que fui crescendo, estes questionamentos foram aumentando. 




Já na adolescência quando um pastor me viu jogar “uma pelada” na rua com os amigos, veio chamar minha atenção, pois, segundo ele eu estava “pecando”. Sem titubear indaguei: “Pastor, me mostra na Bíblia onde está escrito que jogar bola é pecado?” Isso me custou algum tempo sem tocar na orquestra da igreja, embora não tenha obtido resposta à minha pergunta.



Já na juventude, eu não estava mais suportando o sistema religioso engessado da qual a igreja que pertencia estava se tornando. Os questionamentos aumentaram, e eu estava me sentindo como um peixe fora d’água. Ouvia acerca da “doutrina”, o qual eles confundiam com os costumes da denominação, e isso me enfurecia. Vi muitas pessoas serem expostas, humilhadas, saírem da “igreja”, terem suas vidas destruídas por causa da religiosidade de seus líderes. Observei tudo isso, e algo dentro de mim dizia que o Evangelho era diferente daquilo que eu estava vendo.



Por um período pequeno, acabei por me afastar daquilo que se denominava “igreja”. Fui curtir a vida, desfrutar da juventude, conhecer os amores de adolescentes, bem como suas rápidas decepções. Experimentando de tudo um pouco, e sendo experimentado pela vida em suas ambigüidades.



Até que resolvi novamente retornar. Porém, embora pensasse que tinha encontrado um lugar bacana para congregar, com o passar do tempo, vi que a religiosidade e o farisaísmo não respeitam placas de “igrejas”, eles invadem todos os sistemas religiosos. Veio novamente a frustração. Tentei me encontrar novamente em outro lugar, agora já com uma família formada. Me envolvi com o ministério, liderei o diaconato, assumi a superintendência da Escola Dominical, dava aulas para os jovens, homens, mulheres, crianças e adolescentes. Acabei assumindo também o departamento de missões e evangelismo. Fui tesoureiro da igreja. Pregava em muitas igrejas, festividades e congressos. Trabalhei auxiliando o pastor. Mas, passado um tempo, fui percebendo que estava me permitindo ser moldado por um sistema da qual eu nunca havia concordado. Este sistema estava penetrando em minha vida, me forçando a mudar meus conceitos de liberdade do Evangelho. E me vi novamente nos embates contra a religiosidade e o farisaísmo agora disfarçado com outras faces. Não suportei, e novamente me afastei, preservando minha consciência acerca do que cria ser o Evangelho.



Hoje, um bom tempo depois de tudo isso, me vejo com a minha consciência pacificada e em constante crescimento daquilo que é realmente o Evangelho da Graça de Jesus Cristo.



Por que relatei brevemente minha história? Para mostrar que a religiosidade e o farisaísmo não existiram somente nos tempos de Jesus. Eles perduraram durante o transcorrer dos séculos até chegarem aos nossos dias.



Hoje, quase trinta anos depois, eu ainda me deparo com religiosos que querem determinar – diante seus conceitos pessoais – critérios para a vida alheia. Constantemente eu encontro um aqui e outro ali, que discordam da pregação da Graça, Perdão e Misericórdia de Deus. Eles se julgam justos e sem pecados. Confundem o pecador que peca com o pecado do pecador. Pensam que por terem uma conscienciazinha acerca das Escrituras, podem afirmar que não pecam. E por conseqüência definem, pautado em “suas experiências religiosas”, quem vive na prática do pecado ou não. São atitudes semelhantes aos dos fariseus da época de Jesus.



E Jesus sempre advertiu seus discípulos para que tenham cuidado com os fariseus e seu fermento capaz de levedar toda a boa massa. Jesus sempre fez um paralelo com os pecadores e os fariseus. Ele chega a dizer que as meretrizes – pecadoras aos olhos cheios de juízos dos fariseus – iriam preceder eles no Reino de Deus.


Jesus advertiu os seus discípulos de que a condenação do fariseu não tinha paralelo entre os demais pecadores daqueles dias. As prostitutas, os publicanos, os pervertidos e os demais párias daquela sociedade – com os quais Jesus estava em permanente contato – jamais receberam tão intensas ameaças de severo juízo quanto os fariseus. Com essa afirmação eu não estou dizendo que eles não eram também passíveis de juízo, pelos seus próprios pecados. O que estou dizendo é que para Jesus, os pecados deles eram pecados mais “verdadeiros”. Nem por isso eles deixaram de estar sob o crivo do juízo de Deus; porém, com muito menor rigor, nos graus da condenação, do que o que estava prometido para o falso religioso.



Jesus disse que “por fora” os fariseus eram perfeitos; todavia, o interior era um lixo. O Senhor disse que era como alguém que só lava o prato de comida por fora e que é capaz de comer no mesmo prato sujo, a vida toda (você pode se imaginar comendo no mesmo prato sujo a vida inteira? Você pode se imaginar bebendo água num copo sujo por toda a sua vida?). E ainda: que eles eram como sepulcros pintados de branco – mostrando beleza enquanto a podridão acontecia do “lado de dentro”. Isso significa que é bastante possível que as pessoas se escondam sob as vestes religiosas para mascararem seus reais valores interiores.



Muita gente, e mesmo jovens, se esconde sob o disfarce religioso a fim de pecar com mais “segurança”.



Psicologicamente falando, esse fenômeno de se esconder embaixo das vestes religiosas para pecar com mais profundidade não é totalmente estranho. Aliás, o melhor lugar para esconder nossa própria maldade é a igreja. Nós que somos membros da igreja devemos sempre ter a coragem de perguntar o que significa nossa presença no ajuntamento do povo de Deus. Isso porque na igreja há sempre dois tipos de pessoas: aquelas que escondem sua própria maldade e dureza interior sob o disfarce da fé e da moralidade, e aquelas que se conhecem como pecadoras e que escondem a si mesmas sob o sangue de Jesus. O primeiro grupo esconde a sua maldade. O segundo grupo esconde a si mesmo enquanto confessa a sua própria culpa.



A questão é: como pode isso se desenvolver? Eu ouso afirmar que o problema está nos nossos padrões de espiritualidade, os quais muitas vezes são falsos. Por isso, quando alguém está tentado a pecar, está também, automaticamente, tentado a esconder sua tentação sob o disfarce do radicalismo comportamental. Dessa forma, quase sempre os cristãos, antes de caírem numa tentação, caem em uma outra: a tentação de aparentarem uma vida que está para além da possibilidade do pecado. Obviamente ninguém fica mais vulnerável ao pecado do que aquele que não admite sua própria vulnerabilidade.



Acontece que isso é um círculo vicioso. Primeiro, a pessoa é tentada. Depois ela sente a obrigação de mascarar essa realidade. Ora, quando isso acontece essa pessoa está se condicionando psicologicamente para se tornar um hipócrita.



E que é o hipócrita, senão aquele que não assume o que é e aquilo contra o que luta? E quem consegue viver a vida inteira escondendo de si mesmo e dos irmãos as suas fraquezas sem que, de um modo ou de outro, acabe caindo diante daquilo que ele nega como sendo sua própria sedução?  Daí, a inferência de que quanto mais “espiritual” for o ajuntamento cristão, mais propício ao pecado ele será. Justamente aqui nós estamos diante de um grande paradoxo cristão: bem-aventurados sejam os fracos, os mansos e aqueles que são capazes de chorar. Somente depois é que se fala dos limpos de coração. Só é limpo de coração quem limpa o coração diante de Deus e dos irmãos, mediante frequentes confissões de carência humana. Não existe tal pessoa limpa de coração que seja solitária e incapaz de constantes revisões de vida. Não existe ninguém permanentemente limpo de coração. Existem apenas aqueles que se deixam limpar mediante a confissão e a sinceridade de uma vida que não tem medo de ser suficientemente humana para confessar tendências em vez de assumir um outro lado de sua humanidade: o pervertido lado de sua humanidade-inumana, que prefere esconder tendências e viver pecados.



Quando esse tipo de comportamento se desenvolve, o que acontece é que a tendência da pessoa é assumir cada vez mais a “santidade” publicamente, a fim de compensar suas incoerências vividas nos bastidores. Daí que pessoalmente eu me impressiono muito mal com pessoas cuja ênfase na santidade me soe um tanto extravagante. Para mim, na maioria das vezes esse comportamento esconde um conflito interior justamente naquela área que se tornou um obsessivo discurso. Pessoas equilibradas tendem a falar de tudo, ao invés de se tornarem obcecadas por um discurso só. E mesmo quando alguém tem uma ênfase pessoal e particular na vida, se essa pessoa é saudável tal ênfase será vivida sem nenhum espírito de cobrança para com aqueles que não conseguem viver a vida com o mesmo peso, naquela área. Ora, tudo isso me leva a afirmar que muito daquilo que temos chamado de “consagração” na vida cristã possivelmente não passe de um atestado de nossa própria conflitividade não confessada e não assumida.



O que complica bastante a situação daquele que assim se comporta é o fato de que quando alguém vive com tal capacidade de se disfarçar, isso pode significar que ela está desenvolvendo uma profunda maldade em sua própria alma: a maldade de ser tão mal, que tenta enganar a todos sob a máscara da bondade. Vale lembrar que para Jesus esse era o mal maior na vida, o mal dos fariseus, o mal dos religiosos, o mal dos falsos profetas, daqueles que se mostram ovelhas mas que de fato são lobos.



Nós que somos pessoas da igreja precisamos urgentemente aprender que a maior mentira que se comete na vida não é aquela que se diz, mas aquela com a qual se vive. Precisamos recuperar o senso de “intimidade” e de “interioridade” das verdades do Evangelho. Temos que pedir a Deus que nos liberte das falsas e malignas noções de espiritualidade. É urgente que reassumamos nossa herança Reformada, a qual afirma nossa impossibilidade inerente para a bondade absoluta, e nos remete humildes e dependentes para a graça de Deus. Caso contrário, corremos o risco de nos tornarmos pessoas muito más. Aliás, a História está repleta de testemunhos dessa nossa capacidade de nos tornarmos mais maus do que os mais maus.



Este mal vem justamente da nossa relação com o Sagrado. Nada é mais intenso que aquilo que é divino. Quando alguém mantém uma sadia relação com o Sagrado, tal pessoa torna-se santa e bonita. De outro lado, quando a relação com o Sagrado acontece desde uma perspectiva de orgulho, autossuficiência e hipocrisia, então nada faz adoecer mais do que essa versão religiosa da maldade. Daí que Lúcifer tornou-se mau na exata proporção de sua anterior virtude. Assim, onde abundou a graça, superabundou o pecado. Nós temos afirmado esse princípio apenas na dimensão paulina: “onde abundou o pecado superabundou a graça”. Todavia, Pedro coloca a mesma verdade desde uma outra referência histórica: “o seu estado se torna pior do que primeiro”. Ou ainda: “melhor lhes fora jamais terem conhecido o caminho da verdade do que, após o terem conhecido, o abandonarem”.



Certa vez C. S. Lewis disse que o pior diabo é aquele que nós pensamos que não existe. Eu ouso, respeitosamente, contrariar esse que foi um dos maiores pensadores cristãos de todos os tempos, para dizer que, para mim, o pior diabo é aquele ao qual nós nos “acostumamos”. Isso porque quando alguém não sabe ou não crê que o diabo existe, está menos exposto à total força do diabo, pelo simples fato de “sinceramente” não crer ou não admitir a existência dele. Há um grande poder espiritual na verdade, mesmo que aquele que a demonstre seja um ateu. Todavia, quando alguém sabe que o mal existe como mal real e objetivo, mas a despeito disso vive em cínica indiferença para com esse poder, tal pessoa não se torna apenas vulnerável ao mal, mas se torna, ela mesma, parte da própria realidade do mal. Ninguém é mais maligno do que aquele que consegue se tornar indiferente ao poder do mal enquanto admite a sua existência. Gente assim vive uma espécie de “crente-descrença” no poder do mal. Ora, é simples inferir que é mais fácil achar gente assim domingo de manhã ou de noite na igreja, do que num laboratório de ateus confessos. É mais fácil achar esses jovens cantando com as mãos levantadas num culto animado, do que nas praças. Aqueles que estão vivendo sua alienação de Deus e do diabo muitas vezes fazem isso em absoluta ignorância; mas muitos dos que lotam nossos templos cristãos e nossas reuniões são do tipo de gente que consegue “levantar as mãos ao Senhor” e depois, mesmo contra a Palavra do Senhor que eles conhecem, ser capaz de levar uma irmãzinha, companheira de louvor, “para a cama”.



Eu sei que para muita gente as afirmações que tenho feito podem soar excessivamente fortes. No entanto, não tenho o menor temor de estar equivocado a esse respeito. Tenho a própria história bíblica e a história da Igreja para confirmarem tais declarações. E além disso, é só olhar em volta para se constatar que há uma grande abundância de testemunhos contemporâneos corroborando o que estou dizendo.



Tudo o que eu disse até aqui tem a finalidade de estimular você, que deseja andar com Jesus, a coerentemente tomar a cruz e segui-lo. Não é fácil assumir as dores que vêm como resultado de uma vida sincera. É duro, o preço da verdade. Mas é a única forma de andar com Deus. É preciso ter “coragem de ser diferente”. Não diferente apenas mediante uma postura de “fachada”. É preciso ser diferente desde o coração. Só assim se edifica um “compromisso capaz de fazer diferença”.



Faz dez anos que eu venho andando com Jesus nesta consciência e fazendo todo o possível para, no dia a dia, não me esquecer dessas verdades a respeito das quais acabei de escrever. Neste período já me alegrei, me decepcionei, firmei meus passos, vacilei, pequei-peco-e-pecarei, e encontrei-encontro-e-encontrarei perdão e Graça no Amor de Deus revelado em Jesus Cristo. Mas uma coisa tem me ajudado muito, nesses anos: a lembrança de que eu não tenho que ser, para ninguém, qualquer coisa além daquilo que Deus sabe que eu sou. Isso me ajuda a não ter medo de ser gente.



Todavia, essa mesma verdade me ajuda a ser aquilo que, na graça de Deus, eu devo ser na minha “identificação gradual na História”. E quando me sinto tentado a pensar diferente, eu me lembro que os felizes, do ponto de vista de Jesus, são os que têm coragem de chorar, os mansos, os que têm fome e sede de justiça – ou seja, os que querem mais –, os misericordiosos, os que se purificam na graça de Deus, os que vivem para construir pontes entre os separados pelo ódio, e os que assumem a perseguição como o resultado mais natural da sua relação com Jesus, aquele que por viver tão diferentemente dos padrões vigentes, sofreu o preço de uma existência capaz de ser radicalmente relevante; aquele que mostrava seu brilho pessoal a poucos (transfiguração), mas que não teve vergonha de mostrar sua dor e verdade humanas a todos, na cruz.



Somente vivendo com essa compreensão evitaremos a terrível realidade de nos tornarmos hoje os fariseus que Jesus repudiou ontem. Como você viu, a Síndrome do Fariseu ainda hoje contamina corações cheios de si mesmos. Cabe a você jamais chegar lá.



Que você escolha não ser um produto da religiosidade farisaica. Mas que seja um filho da graça, do perdão, do amor e da misericórdia de Jesus Cristo.



Na Graça daquEle, que embora sabendo que sou pecador, me amou primeiro se entregando por mim na Cruz, me fazendo por meio de Seu sangue, um Filho da Graça!



Juliano Marcel


(parafraseando com Caio Fábio em alguns trechos)


Bragança Paulista-SP


05/05/2012


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E os do Caminho...

... têm que ser apenas gente andante, seguindo a Jesus com outros, cada um com seu nível de compreensão e percepção, porém todos desejosos de aprenderem a Cristo, conforme Jesus no ensinou ser o caminho de gente que busca se tornar semelhante a Ele.

Este é o convite aos do Caminho: tornarem-se semelhantes a Jesus no curso da jornada da fé; dia a dia sendo transformados de glória em glória; até que se vá chegando à estatura do Novo Homem, o qual se renova segundo Deus mediante a pratica do amor e da verdade.

Assim que é! Vem & vê!

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