segunda-feira, 15 de outubro de 2012

QUANDO A CRUZ RELATIVIZA A VIDA

Tenho sido tomado por um sentimento profundo em minha alma. Não sei explicar nem descrever o que tenho sentido. Uma mistura de dor, ansiedade, angústia, e ao mesmo tempo alegria, paz e amor. Tenho sido constrangido pelo amor de Deus. Tenho sido constrangido pelo amor de Deus a amar meus irmãos. Deus tem colocado em mim um sentimento tão profundo de amor pelo Evangelho, por Sua Graça, por Sua Misericórdia e principalmente pela Cruz de Cristo, sendo ela a razão deste sentimento em mim.


Nos últimos dias, não tenho conseguido orar. Pela manhã, quando direciono minha atenção a Deus, me faltam palavras. Não consigo pedir nada, não consigo dizer nada, só consigo dizer: “obrigado Jesus”. Porém, quando estou ministrando alguém, ou pregando na Fundação CASA, ou na Comunidade Terapêutica ou na Igreja, as palavras fluem de meu interior como um rio em direção ao oceano. Mas, por mim mesmo não consigo orar ou pedir nada.

Tenho tido apenas um único interesse, a saber: Conhecer mais sobre a Cruz de Cristo, o Amor de Deus nela revelada. Este interesse tem permeado minha vida, minha alma, tem ocupado minha mente.

Para alguns pode parecer nostálgico, mas para mim, ao mesmo tempo em que tem sido perturbador, tem sido amenizador de meus ânimos, acalentador da minha alma, agasalhador da minha fé, e o firme fundamento da minha vida.

Não há interesse nenhum de minha parte em falar de outra coisa ou pregar outro tema que não seja este: A Cruz de Cristo!

Este é o cerne do Evangelho. Aqui está o centro gravitacional da vida. Se é que pode existir um centro da vontade de Deus, é este: A Cruz de Cristo! Pois ela chega relativizando nossas vidas, nossas vontades, nossos ideais, nossas verdades. Faz com que todas elas sejam redirecionadas a partir dela mesma.

Vejo que os homens que se tem chamado de “evangélicos” perderam a essência do Evangelho. Seus líderes têm reduzido a Graça de Deus a pequenas coisas materiais do cotidiano humano – carros, casas, finanças – como se o sentido da vida estivesse nestas quinquilharias circunstanciais.

Já não há temor na pregação. Já não há um sentido, uma mensagem, um caminho, um objetivo conforme Paulo nos informa, quando diz que “devemos prosseguir para o alvo, para o prêmio da soberana vocação que está em Cristo Jesus, o nosso Senhor”.

Aliás, quem creu na pregação? Creu em qual pregação?

Tanto Isaías, quanto Paulo citando Isaías nos diz que a pregação é o conteúdo inegociável da fé que gera vida, e nos faz caminhar, e nos gloriar-nos nas tribulações sabendo que elas produzem a paciência, e esta gera experiência, resultando em perseverança, e desemboca na esperança, cuja esperança não nos confunde, antes, nos afirma no amor que nos foi derramado mediante o Espírito de Deus que nos foi outorgado.

Reduzimos a pregação do Evangelho a campanhas da vitória, jejuns temáticos, cultos temáticos, mensagem dirigida, barganhas com Deus, propósitos e esqueminhas religiosos.

Oro, para que o temor seja instaurado em nossos corações; para que o conteúdo essencial do Evangelho seja cravado em nossas almas; para que a única mensagem a ser compartilhada seja a Cruz de Cristo; que o objetivo do homem seja unicamente “...conhecer e prosseguir em conhecer o Senhor...” que os foi revelado em Cristo Jesus.

Na Graça Dele, em quem a minha alma tem habitado em contradição, perturbação e ambigüidade; mas sincera e devotamente cheia de amor e gratidão a Ele.

Juliano Marcel
Bragança Paulista-SP
15/10/2012




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terça-feira, 9 de outubro de 2012

O CONTEXTO FAMILIAR COMO CENTRO TERAPÊUTICO DO MENOR INFRATOR



Palestra realizada no auditório da OAB Bragança Paulista no dia 28/09/2012, para familiares e responsáveis por menores que estão cumprindo medidas sócio-educativas em regime fechado na Fundação C.A.S.A., e menores em medida de L.A. (Liberdade Assistida). Com a presença de técnicas responsáveis pelo acompanhamento dos familiares e menores – psicólogas e assistentes sociais.

  
A primeira coisa que devemos ter em mente neste momento, e dentro do contexto pelo qual estamos aqui – a infeliz opção dos filhos pelas drogas e o crime – é que esta realidade é uma maldição em nossas vidas (maldição=desgraça).

Já que estamos aqui, e em família, podemos refletir sobre o que é esta instituição para nós, e suas finalidades.

O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), no CAPÍTULO III - DO DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA – na Seção I, em Disposições Gerais, diz:

“Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes”.

“Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais”.

Ou seja, mediante os órgãos públicos, temos a obrigação da manutenção, estruturação e criação de um ambiente familiar que propicie o desenvolvimento familiar de forma saudável.

Porém, é um princípio natural e inato a todo ser humano que, ao estabelecer uma família, deve prover a ela este bem-estar.

O que eu gostaria de conversar com vocês hoje, é justamente sobre a nossa compreensão desta realidade – a família – e sobre os princípios que estabelecemos em nossas vidas, para que esta seja um lugar seguro, formador, desenvolvedor e terapêutico de seus membros.

Como poderíamos descrever a importância da instituição Família?

“A família é a célula máter da sociedade. Sem famílias, não haverá sociedade”.

“A família é o ponto de partida de todos os relacionamentos; ela é a economia sócio-comportamen­tal ideal. Não existe outra que se compare a ela. É a oficina modeladora do caráter”.

“O que se aprende na vivência do lar permanece para toda a vida. É o espaço para o crescimento pessoal e coletivo”.

“É na família que está a força e o poten­cial da sociedade. O crescimento saudável da sociedade depende da edificação da família. Ela é a pedra angular da sociedade. Nenhuma civilização sobreviveu à sua dissolução”.

“Sem a família, nenhuma instituição pode realizar seu propósito es­sencial. A família é o agente integrador de grupos, o estabilizador emocional e o corretivo psicológico”.

“A família é o centro de promoção e o laboratório de desenvolvimentos cultural, social e humano pela sua própria vocação. A família é uma Instituição criada por Deus (Gn 1.26-31; 2.18-25)”.

O que poderá fazer o Estado em favor de uma sociedade sem famílias?

Não basta haver progenitores ou agentes legais de paternidade e maternidade. O que falta mesmo é a velha e saudável noção de família, de casamento, de educação, de respeito, de reverencia pelos mais velhos; e, sobretudo, falta a certeza de que pai e mãe são para sempre.

Porém, temos visto sinais na família, que vai acabando, morrendo, e que se desfaz em desrespeito e falência afetiva.

Algumas perguntas para reflexão:

Como vai a sua família? Que lugar ela ocupa em sua lista de prioridades? Qual o investimento que você tem feito na sua edificação? Que nota você daria para a sua família hoje? A mensagem que estarei compartilhando com vocês tem relação com as respostas para as perguntas acima.

Como a família pode ser o centro terapêutico na vida do menor infrator?

Precisamos, primeiramente, compreender que somos pessoas que se relacionam em quatro esferas distintas, porém, que se integram na formação individual:

1º SOMOS SERES INDIVIDUAIS – Somos pessoas com vontades individuais, singulares, particulares e etc.

Não podemos querer que nossos filhos sejam nossas fotocópias. Não há a possibilidade de que nossos filhos sejam idênticos a nós; pensem como nós pensamos; respondam à vida como reagimos. Jamais conseguiremos que nossos filhos sejam como nós. Cada indivíduo é singular, tem sua identidade, precisa desenvolver suas características pessoais.

2º SOMOS SERES FAMILIAR – Pessoas com um contexto familiar, pai, mãe, filhos e etc.

Participamos desta instituição chamada família. Nosso relacionamento imediato com o mundo acontece a partir da nossa família. Nossa visão do mundo se estabelece também a partir da nossa família.

3º SOMOS SERES COMUNITÁRIOS – Pessoas que se relacionam com determinadas comunidades: igrejas, associações, instituições e etc.

Participamos de atividades ajudará no desenvolvimento pessoal em instituições como escola, igrejas, associações.

4º SOMOS SERES SOCIAIS – Pessoas que se relacionam e tem responsabilidades com uma sociedade comum, com seus conjuntos de leis e regras.

Participamos de um contexto coletivo, de uma sociedade que dispõe de regras para o bem-viver comum.

Se nossas vidas se subdividem basicamente nestas quatro esferas distintas, o que determina basicamente a relação do indivíduo de forma saudável com todas elas é o seu contexto intra-familiar e extra-familiar.

Intra-Familiar: É a relação que o indivíduo desenvolve com os membros de sua família, dentro de sua casa, no interior da sua casa. É o que ele aprende, como se sociabiliza, como trata o pai, a mãe, os irmãos. É neste contexto que é formado e desenvolvido o caráter e a personalidade do indivíduo. O que ele aprende dentro deste contexto determinará como ele se relacionará com as pessoas e áreas fora deste contexto familiar.

Por exemplo: Vejo crianças pequenas de quatro ou seis anos que falam palavrões. Onde eles aprenderam palavras tão baixas? Onde eles escutaram? É o pai que pega a criança pequena e leva ela para o bar enquanto bebe com os amigos. O que ele irá aprender? É a mãe que não sabendo estabelecer sua autoridade, grita com os filhos e os chamam de vários nomes (vagabunda, burra, ameaçando lhe dar uma surra, sem contar os palavrões) utilizando este método como meio educativo.

Extra-Familiar: Neste sentido, o indivíduo se relaciona com pessoas fora de seu contexto familiar. Porém, sua relação é determinada pelo aprendizado intra-familiar. Dependendo de como foi esta relação intra-familiar, o indivíduo se relacionará de forma saudável ou não com as pessoas e entidades fora de seu contexto familiar.

Se seu ambiente familiar foi um ambiente opressor, abusivo, agressivo, assim será sua relação com os de fora. Vejo muitas crianças que desenvolvem problemas sérios de relacionamento fora de casa, porque foram vítimas de agressões, de abusos, de torturas psicológicas dentro de casa.

Vejo adolescentes que buscam fora de casa, na rua, junto aos pares, uma afirmação pessoal, uma aceitação, uma identidade, justamente porque sua relação intra-familiar foi doentia e irresponsável por parte de seus responsáveis.


Como vimos, é no seio familiar que o indivíduo é formado.

Qual o contexto familiar que estamos formando em nossas casas?

1º BOAS INTENÇÕES NÃO SÃO SUFICIENTES

Não basta termos boas intenções em nossas famílias, com nossos filhos. Boas intenções não educam, não formam caráter, não desenvolvem personalidade. Boas intenções não passam de meras suposições, se não forem colocadas me práticas. Não basta queremos que nossos filhos cresçam, estudem, se formem na Faculdade, se tornem um homem/mulher responsável, se estas boas intenções se transformarem em atitudes saudáveis que auxiliem no desenvolvimento direto da vida dos nossos filhos.

2º TEMOS QUE SER CAPAZES DE TRANSFORMAR NOSSAS BOAS INTENÇÕES EM INVESTIMENTO DE VIDA NA EXISTÊNCIA DOS FILHOS

Temos que ser capazes de aplicar nossas boas intenções em ações. Não podemos ficar sonhando. Não podemos ficar inertes e ver nossos filhos crescerem e já apresentarem desvios comportamentais e achar que isso é normal, é fase, vai passar. Como diz o adágio popular: “De boas intenções o inferno está cheio”. Não adianta você ter os sonhos que tem, nem apenas fazer as orações que faz, nem apenas guardar e juntar dinheiro para o bem de seus filhos. É preciso investir vida na vida de seus filhos.


3º NOSSAS PRINCIPAIS ÁREAS DE FRAQUEZAS SÃO CLARAMENTE PERCEBIDAS NAS NOSSAS RELAÇÕES COM NOSSOS FILHOS

A forma com que nos relacionamos com nossos filhos evidenciam justamente as nossas próprias áreas de fraquezas. Talvez nós tenhamos sido vítimas de um contexto familiar disfuncional, e fomos feridos, e agora, com nossas famílias estamos transferindo esta ferida para os nossos filhos. Não queremos acreditar que nossos filhos estão envolvidos com drogas, com o tráfico, imaginamos que os culpados são os filhos da vizinha, os adolescentes da esquina, sem saber que muitas vezes o pior dentre todos eles são os nossos filhos.
  

O que precisamos compreender então para construirmos uma família saudável?
  

1º NÃO PODEMOS TRANSFERIR RESPONSABILIDADES INTRANSFERÍVEIS

Minha pergunta a você é: pra quem é que você está transferindo a responsabilidade de administrar a alma de seus filhos? Para o avô? Para os filhos mais velhos? Para a escola? Para a Fundação CASA? Para a rua? Para quem? Para a diretora da escola?

Essa responsabilidade é intransferível. O filho é seu. A filha é sua. A alma deles vai ser cobrada de você. De que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a alma de seu filho? De que adianta viver trabalhando incansavelmente pra trazer sustento para casa, mas ter uma filha desgraçada ou um garoto arruinado em casa, viciado em drogas, envolvido com o tráfico e com o crime?

2º TEMOS QUE TER A CORAGEM DE CONFRONTAR NOSSOS FILHOS

Creio que não haja pais ou mães cegos; no entanto, há pais e mães que não querem ver, que têm medo de encarar o filho e o problema, que têm medo de confrontar os filhos com a verdade, que têm medo de não saber como conduzir o problema, de como ajudar a solucionar.

Temos que ter a coragem de estabelecer limites para nossos filhos. Limites saudáveis, com o cuidado com suas vidas. Temos que tomar as rédias das nossas famílias. Enquanto ficarmos achando que o culpado é o traficante da esquina, que é má influência dos amigos, que é fase de rebeldia, nossos filhos se desgraçarão, passarão a infância e adolescência internados em uma Fundação CASA, e correremos o risco ver a vida de nossos filhos serem ceifadas prematuramente. E quando isso acontecer, não haverá justificativas para ficar chorando em cima do caixão de seu filho, culpando Deus e o mundo, dizendo que é injustiça.

Tenha uma atitude hoje e agora, enquanto ainda há tempo. Enquanto seu filho ainda é menor, enquanto ele ainda mora debaixo do seu teto, enquanto você ainda é o provedor de sua casa.

Eu não tenho receitas para soluções de problemas familiares, mas, em qualquer caso, a omissão não vai resolvê-los, o tempo não vai solucioná-los.

Por que temos receio de confrontar nossos filhos? Medo? Talvez culpa? Culpa por saber que não fomos os pais que deveríamos ser? Por saber que deixamos eles crescer sem limites? Que não disciplinamos quando necessário? Que mimamos demais nossos filhos?

No fundo, sabemos que grande parte da responsabilidade de nossos filhos estarem onde estão hoje, é nossa enquanto pais e responsáveis.


No início, falamos que esta realidade se tornou como MALDIÇÃO em nossas vidas e na sociedade.

Eu gostaria de compartilhar com vocês um texto bíblico que diz que existe uma maneira desta maldição não assolar nossas famílias: “... quando o coração do pai se converter ao seu filho, e coração do filho se converter ao seu pai, Deus extinguirá a maldição da Terra”. (Malaquias 4:6)

Que Deus possa ajudá-los a expurgar as amarguras da alma, a exorcizar o prazer sádico da vingança, o masoquismo da autocomiseração. Que Deus os ajude a enxergar o valor da família, a preciosidade da relação ente um pai e um filho, entre uma mãe e uma filha. Que você possa dar valor não ao que tem dentro de casa, mas dar valor ao que você pode construir dentro dela.

1.   Não podemos transferir responsabilidades intransferíveis.

2.   Nós não queremos ser capaz de vencer o mundo, mas não saber confrontar os filhos, olho no olho.

3.    Não queremos minimizar o poder das amarguras familiares.

4.    Não queremos brincar com o ódio existente dentro de casa, queremos dar a devida atenção.

5.    Não queremos reagir aos conflitos apenas emocionalmente.

Quando pais se converterem aos seus filhos, filhos se converterem aos seus pais, maridos se converterem a suas esposas, esposas se converterem a seus maridos, quando você deixar o ódio cair por terra e Deus encher o seu coração de amor, de perdão e de reconciliação, a maldição estará quebrada na terra.

Gostaria de parabenizar as famílias que estão procurando ajuda orientação para seus problemas familiares juntamente com as técnicas.

Uma boa noite à todos vocês!

Juliano Marcel
28/09/2012



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sexta-feira, 4 de maio de 2012

CUIDADO PARA NÃO VESTIR AS MÁSCARAS DA FALSIDADE FARISAICA

Desde pequeno, quando ia à igreja por influência da minha vózinha, eu sempre percebi algo diferente entre os que se chamavam “evangélicos”. Algo nunca me soou bem aos ouvidos. Sempre fui uma criança questionadora desde muito cedo. Na Escola Dominical eu transbordava perguntas das mais diversas ordens às professoras. Perguntas que muitas vezes ficaram sem respostas. Na medida com que fui crescendo, estes questionamentos foram aumentando. 




Já na adolescência quando um pastor me viu jogar “uma pelada” na rua com os amigos, veio chamar minha atenção, pois, segundo ele eu estava “pecando”. Sem titubear indaguei: “Pastor, me mostra na Bíblia onde está escrito que jogar bola é pecado?” Isso me custou algum tempo sem tocar na orquestra da igreja, embora não tenha obtido resposta à minha pergunta.



Já na juventude, eu não estava mais suportando o sistema religioso engessado da qual a igreja que pertencia estava se tornando. Os questionamentos aumentaram, e eu estava me sentindo como um peixe fora d’água. Ouvia acerca da “doutrina”, o qual eles confundiam com os costumes da denominação, e isso me enfurecia. Vi muitas pessoas serem expostas, humilhadas, saírem da “igreja”, terem suas vidas destruídas por causa da religiosidade de seus líderes. Observei tudo isso, e algo dentro de mim dizia que o Evangelho era diferente daquilo que eu estava vendo.



Por um período pequeno, acabei por me afastar daquilo que se denominava “igreja”. Fui curtir a vida, desfrutar da juventude, conhecer os amores de adolescentes, bem como suas rápidas decepções. Experimentando de tudo um pouco, e sendo experimentado pela vida em suas ambigüidades.



Até que resolvi novamente retornar. Porém, embora pensasse que tinha encontrado um lugar bacana para congregar, com o passar do tempo, vi que a religiosidade e o farisaísmo não respeitam placas de “igrejas”, eles invadem todos os sistemas religiosos. Veio novamente a frustração. Tentei me encontrar novamente em outro lugar, agora já com uma família formada. Me envolvi com o ministério, liderei o diaconato, assumi a superintendência da Escola Dominical, dava aulas para os jovens, homens, mulheres, crianças e adolescentes. Acabei assumindo também o departamento de missões e evangelismo. Fui tesoureiro da igreja. Pregava em muitas igrejas, festividades e congressos. Trabalhei auxiliando o pastor. Mas, passado um tempo, fui percebendo que estava me permitindo ser moldado por um sistema da qual eu nunca havia concordado. Este sistema estava penetrando em minha vida, me forçando a mudar meus conceitos de liberdade do Evangelho. E me vi novamente nos embates contra a religiosidade e o farisaísmo agora disfarçado com outras faces. Não suportei, e novamente me afastei, preservando minha consciência acerca do que cria ser o Evangelho.



Hoje, um bom tempo depois de tudo isso, me vejo com a minha consciência pacificada e em constante crescimento daquilo que é realmente o Evangelho da Graça de Jesus Cristo.



Por que relatei brevemente minha história? Para mostrar que a religiosidade e o farisaísmo não existiram somente nos tempos de Jesus. Eles perduraram durante o transcorrer dos séculos até chegarem aos nossos dias.



Hoje, quase trinta anos depois, eu ainda me deparo com religiosos que querem determinar – diante seus conceitos pessoais – critérios para a vida alheia. Constantemente eu encontro um aqui e outro ali, que discordam da pregação da Graça, Perdão e Misericórdia de Deus. Eles se julgam justos e sem pecados. Confundem o pecador que peca com o pecado do pecador. Pensam que por terem uma conscienciazinha acerca das Escrituras, podem afirmar que não pecam. E por conseqüência definem, pautado em “suas experiências religiosas”, quem vive na prática do pecado ou não. São atitudes semelhantes aos dos fariseus da época de Jesus.



E Jesus sempre advertiu seus discípulos para que tenham cuidado com os fariseus e seu fermento capaz de levedar toda a boa massa. Jesus sempre fez um paralelo com os pecadores e os fariseus. Ele chega a dizer que as meretrizes – pecadoras aos olhos cheios de juízos dos fariseus – iriam preceder eles no Reino de Deus.


Jesus advertiu os seus discípulos de que a condenação do fariseu não tinha paralelo entre os demais pecadores daqueles dias. As prostitutas, os publicanos, os pervertidos e os demais párias daquela sociedade – com os quais Jesus estava em permanente contato – jamais receberam tão intensas ameaças de severo juízo quanto os fariseus. Com essa afirmação eu não estou dizendo que eles não eram também passíveis de juízo, pelos seus próprios pecados. O que estou dizendo é que para Jesus, os pecados deles eram pecados mais “verdadeiros”. Nem por isso eles deixaram de estar sob o crivo do juízo de Deus; porém, com muito menor rigor, nos graus da condenação, do que o que estava prometido para o falso religioso.



Jesus disse que “por fora” os fariseus eram perfeitos; todavia, o interior era um lixo. O Senhor disse que era como alguém que só lava o prato de comida por fora e que é capaz de comer no mesmo prato sujo, a vida toda (você pode se imaginar comendo no mesmo prato sujo a vida inteira? Você pode se imaginar bebendo água num copo sujo por toda a sua vida?). E ainda: que eles eram como sepulcros pintados de branco – mostrando beleza enquanto a podridão acontecia do “lado de dentro”. Isso significa que é bastante possível que as pessoas se escondam sob as vestes religiosas para mascararem seus reais valores interiores.



Muita gente, e mesmo jovens, se esconde sob o disfarce religioso a fim de pecar com mais “segurança”.



Psicologicamente falando, esse fenômeno de se esconder embaixo das vestes religiosas para pecar com mais profundidade não é totalmente estranho. Aliás, o melhor lugar para esconder nossa própria maldade é a igreja. Nós que somos membros da igreja devemos sempre ter a coragem de perguntar o que significa nossa presença no ajuntamento do povo de Deus. Isso porque na igreja há sempre dois tipos de pessoas: aquelas que escondem sua própria maldade e dureza interior sob o disfarce da fé e da moralidade, e aquelas que se conhecem como pecadoras e que escondem a si mesmas sob o sangue de Jesus. O primeiro grupo esconde a sua maldade. O segundo grupo esconde a si mesmo enquanto confessa a sua própria culpa.



A questão é: como pode isso se desenvolver? Eu ouso afirmar que o problema está nos nossos padrões de espiritualidade, os quais muitas vezes são falsos. Por isso, quando alguém está tentado a pecar, está também, automaticamente, tentado a esconder sua tentação sob o disfarce do radicalismo comportamental. Dessa forma, quase sempre os cristãos, antes de caírem numa tentação, caem em uma outra: a tentação de aparentarem uma vida que está para além da possibilidade do pecado. Obviamente ninguém fica mais vulnerável ao pecado do que aquele que não admite sua própria vulnerabilidade.



Acontece que isso é um círculo vicioso. Primeiro, a pessoa é tentada. Depois ela sente a obrigação de mascarar essa realidade. Ora, quando isso acontece essa pessoa está se condicionando psicologicamente para se tornar um hipócrita.



E que é o hipócrita, senão aquele que não assume o que é e aquilo contra o que luta? E quem consegue viver a vida inteira escondendo de si mesmo e dos irmãos as suas fraquezas sem que, de um modo ou de outro, acabe caindo diante daquilo que ele nega como sendo sua própria sedução?  Daí, a inferência de que quanto mais “espiritual” for o ajuntamento cristão, mais propício ao pecado ele será. Justamente aqui nós estamos diante de um grande paradoxo cristão: bem-aventurados sejam os fracos, os mansos e aqueles que são capazes de chorar. Somente depois é que se fala dos limpos de coração. Só é limpo de coração quem limpa o coração diante de Deus e dos irmãos, mediante frequentes confissões de carência humana. Não existe tal pessoa limpa de coração que seja solitária e incapaz de constantes revisões de vida. Não existe ninguém permanentemente limpo de coração. Existem apenas aqueles que se deixam limpar mediante a confissão e a sinceridade de uma vida que não tem medo de ser suficientemente humana para confessar tendências em vez de assumir um outro lado de sua humanidade: o pervertido lado de sua humanidade-inumana, que prefere esconder tendências e viver pecados.



Quando esse tipo de comportamento se desenvolve, o que acontece é que a tendência da pessoa é assumir cada vez mais a “santidade” publicamente, a fim de compensar suas incoerências vividas nos bastidores. Daí que pessoalmente eu me impressiono muito mal com pessoas cuja ênfase na santidade me soe um tanto extravagante. Para mim, na maioria das vezes esse comportamento esconde um conflito interior justamente naquela área que se tornou um obsessivo discurso. Pessoas equilibradas tendem a falar de tudo, ao invés de se tornarem obcecadas por um discurso só. E mesmo quando alguém tem uma ênfase pessoal e particular na vida, se essa pessoa é saudável tal ênfase será vivida sem nenhum espírito de cobrança para com aqueles que não conseguem viver a vida com o mesmo peso, naquela área. Ora, tudo isso me leva a afirmar que muito daquilo que temos chamado de “consagração” na vida cristã possivelmente não passe de um atestado de nossa própria conflitividade não confessada e não assumida.



O que complica bastante a situação daquele que assim se comporta é o fato de que quando alguém vive com tal capacidade de se disfarçar, isso pode significar que ela está desenvolvendo uma profunda maldade em sua própria alma: a maldade de ser tão mal, que tenta enganar a todos sob a máscara da bondade. Vale lembrar que para Jesus esse era o mal maior na vida, o mal dos fariseus, o mal dos religiosos, o mal dos falsos profetas, daqueles que se mostram ovelhas mas que de fato são lobos.



Nós que somos pessoas da igreja precisamos urgentemente aprender que a maior mentira que se comete na vida não é aquela que se diz, mas aquela com a qual se vive. Precisamos recuperar o senso de “intimidade” e de “interioridade” das verdades do Evangelho. Temos que pedir a Deus que nos liberte das falsas e malignas noções de espiritualidade. É urgente que reassumamos nossa herança Reformada, a qual afirma nossa impossibilidade inerente para a bondade absoluta, e nos remete humildes e dependentes para a graça de Deus. Caso contrário, corremos o risco de nos tornarmos pessoas muito más. Aliás, a História está repleta de testemunhos dessa nossa capacidade de nos tornarmos mais maus do que os mais maus.



Este mal vem justamente da nossa relação com o Sagrado. Nada é mais intenso que aquilo que é divino. Quando alguém mantém uma sadia relação com o Sagrado, tal pessoa torna-se santa e bonita. De outro lado, quando a relação com o Sagrado acontece desde uma perspectiva de orgulho, autossuficiência e hipocrisia, então nada faz adoecer mais do que essa versão religiosa da maldade. Daí que Lúcifer tornou-se mau na exata proporção de sua anterior virtude. Assim, onde abundou a graça, superabundou o pecado. Nós temos afirmado esse princípio apenas na dimensão paulina: “onde abundou o pecado superabundou a graça”. Todavia, Pedro coloca a mesma verdade desde uma outra referência histórica: “o seu estado se torna pior do que primeiro”. Ou ainda: “melhor lhes fora jamais terem conhecido o caminho da verdade do que, após o terem conhecido, o abandonarem”.



Certa vez C. S. Lewis disse que o pior diabo é aquele que nós pensamos que não existe. Eu ouso, respeitosamente, contrariar esse que foi um dos maiores pensadores cristãos de todos os tempos, para dizer que, para mim, o pior diabo é aquele ao qual nós nos “acostumamos”. Isso porque quando alguém não sabe ou não crê que o diabo existe, está menos exposto à total força do diabo, pelo simples fato de “sinceramente” não crer ou não admitir a existência dele. Há um grande poder espiritual na verdade, mesmo que aquele que a demonstre seja um ateu. Todavia, quando alguém sabe que o mal existe como mal real e objetivo, mas a despeito disso vive em cínica indiferença para com esse poder, tal pessoa não se torna apenas vulnerável ao mal, mas se torna, ela mesma, parte da própria realidade do mal. Ninguém é mais maligno do que aquele que consegue se tornar indiferente ao poder do mal enquanto admite a sua existência. Gente assim vive uma espécie de “crente-descrença” no poder do mal. Ora, é simples inferir que é mais fácil achar gente assim domingo de manhã ou de noite na igreja, do que num laboratório de ateus confessos. É mais fácil achar esses jovens cantando com as mãos levantadas num culto animado, do que nas praças. Aqueles que estão vivendo sua alienação de Deus e do diabo muitas vezes fazem isso em absoluta ignorância; mas muitos dos que lotam nossos templos cristãos e nossas reuniões são do tipo de gente que consegue “levantar as mãos ao Senhor” e depois, mesmo contra a Palavra do Senhor que eles conhecem, ser capaz de levar uma irmãzinha, companheira de louvor, “para a cama”.



Eu sei que para muita gente as afirmações que tenho feito podem soar excessivamente fortes. No entanto, não tenho o menor temor de estar equivocado a esse respeito. Tenho a própria história bíblica e a história da Igreja para confirmarem tais declarações. E além disso, é só olhar em volta para se constatar que há uma grande abundância de testemunhos contemporâneos corroborando o que estou dizendo.



Tudo o que eu disse até aqui tem a finalidade de estimular você, que deseja andar com Jesus, a coerentemente tomar a cruz e segui-lo. Não é fácil assumir as dores que vêm como resultado de uma vida sincera. É duro, o preço da verdade. Mas é a única forma de andar com Deus. É preciso ter “coragem de ser diferente”. Não diferente apenas mediante uma postura de “fachada”. É preciso ser diferente desde o coração. Só assim se edifica um “compromisso capaz de fazer diferença”.



Faz dez anos que eu venho andando com Jesus nesta consciência e fazendo todo o possível para, no dia a dia, não me esquecer dessas verdades a respeito das quais acabei de escrever. Neste período já me alegrei, me decepcionei, firmei meus passos, vacilei, pequei-peco-e-pecarei, e encontrei-encontro-e-encontrarei perdão e Graça no Amor de Deus revelado em Jesus Cristo. Mas uma coisa tem me ajudado muito, nesses anos: a lembrança de que eu não tenho que ser, para ninguém, qualquer coisa além daquilo que Deus sabe que eu sou. Isso me ajuda a não ter medo de ser gente.



Todavia, essa mesma verdade me ajuda a ser aquilo que, na graça de Deus, eu devo ser na minha “identificação gradual na História”. E quando me sinto tentado a pensar diferente, eu me lembro que os felizes, do ponto de vista de Jesus, são os que têm coragem de chorar, os mansos, os que têm fome e sede de justiça – ou seja, os que querem mais –, os misericordiosos, os que se purificam na graça de Deus, os que vivem para construir pontes entre os separados pelo ódio, e os que assumem a perseguição como o resultado mais natural da sua relação com Jesus, aquele que por viver tão diferentemente dos padrões vigentes, sofreu o preço de uma existência capaz de ser radicalmente relevante; aquele que mostrava seu brilho pessoal a poucos (transfiguração), mas que não teve vergonha de mostrar sua dor e verdade humanas a todos, na cruz.



Somente vivendo com essa compreensão evitaremos a terrível realidade de nos tornarmos hoje os fariseus que Jesus repudiou ontem. Como você viu, a Síndrome do Fariseu ainda hoje contamina corações cheios de si mesmos. Cabe a você jamais chegar lá.



Que você escolha não ser um produto da religiosidade farisaica. Mas que seja um filho da graça, do perdão, do amor e da misericórdia de Jesus Cristo.



Na Graça daquEle, que embora sabendo que sou pecador, me amou primeiro se entregando por mim na Cruz, me fazendo por meio de Seu sangue, um Filho da Graça!



Juliano Marcel


(parafraseando com Caio Fábio em alguns trechos)


Bragança Paulista-SP


05/05/2012


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E os do Caminho...

... têm que ser apenas gente andante, seguindo a Jesus com outros, cada um com seu nível de compreensão e percepção, porém todos desejosos de aprenderem a Cristo, conforme Jesus no ensinou ser o caminho de gente que busca se tornar semelhante a Ele.

Este é o convite aos do Caminho: tornarem-se semelhantes a Jesus no curso da jornada da fé; dia a dia sendo transformados de glória em glória; até que se vá chegando à estatura do Novo Homem, o qual se renova segundo Deus mediante a pratica do amor e da verdade.

Assim que é! Vem & vê!

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