O CONTEXTO FAMILIAR COMO CENTRO TERAPÊUTICO DO MENOR INFRATOR
Palestra realizada no auditório da OAB Bragança Paulista no dia
28/09/2012, para familiares e responsáveis por menores que estão cumprindo
medidas sócio-educativas em regime fechado na Fundação C.A.S.A., e menores em
medida de L.A. (Liberdade Assistida). Com a presença de técnicas responsáveis
pelo acompanhamento dos familiares e menores – psicólogas e assistentes
sociais.
A primeira coisa que devemos ter em
mente neste momento, e dentro do contexto pelo qual estamos aqui – a infeliz
opção dos filhos pelas drogas e o crime – é que esta realidade é uma maldição em
nossas vidas (maldição=desgraça).
Já que estamos aqui, e em família,
podemos refletir sobre o que é esta instituição para nós, e suas finalidades.
O ECA (Estatuto da Criança e do
Adolescente), no CAPÍTULO III - DO DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA
– na Seção I, em Disposições Gerais, diz:
“Art. 19. Toda criança ou
adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e,
excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e
comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de
substâncias entorpecentes”.
“Art. 22. Aos pais incumbe o dever
de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no
interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações
judiciais”.
Ou seja, mediante os órgãos
públicos, temos a obrigação da manutenção, estruturação e criação de um
ambiente familiar que propicie o desenvolvimento familiar de forma saudável.
Porém, é um princípio natural e
inato a todo ser humano que, ao estabelecer uma família, deve prover a ela este
bem-estar.
O que eu gostaria de conversar com
vocês hoje, é justamente sobre a nossa compreensão desta realidade – a família
– e sobre os princípios que estabelecemos em nossas vidas, para que esta seja
um lugar seguro, formador, desenvolvedor e terapêutico de seus membros.
Como poderíamos descrever a
importância da instituição Família?
“A família é a célula máter da
sociedade. Sem famílias, não haverá sociedade”.
“A
família é o ponto de partida de todos os relacionamentos; ela é a economia
sócio-comportamental ideal. Não existe outra que se compare a ela. É a oficina
modeladora do caráter”.
“O que
se aprende na vivência do lar permanece para toda a vida. É o espaço para o
crescimento pessoal e coletivo”.
“É na
família que está a força e o potencial da sociedade. O crescimento saudável da
sociedade depende da edificação da família. Ela é a pedra angular da sociedade.
Nenhuma civilização sobreviveu à sua dissolução”.
“Sem a
família, nenhuma instituição pode realizar seu propósito essencial. A família
é o agente integrador de grupos, o estabilizador emocional e o corretivo
psicológico”.
“A família
é o centro de promoção e o laboratório de desenvolvimentos cultural, social e
humano pela sua própria vocação. A família é uma Instituição criada por Deus
(Gn 1.26-31; 2.18-25)”.
O que poderá fazer o Estado em
favor de uma sociedade sem famílias?
Não basta haver progenitores ou
agentes legais de paternidade e maternidade. O que falta mesmo é a velha e
saudável noção de família, de casamento, de educação, de respeito, de
reverencia pelos mais velhos; e, sobretudo, falta a certeza de que pai e mãe
são para sempre.
Porém, temos visto sinais na
família, que vai acabando, morrendo, e que se desfaz em desrespeito e falência
afetiva.
Algumas perguntas para reflexão:
Como vai a sua família? Que lugar ela ocupa em sua lista de
prioridades? Qual o investimento que você tem feito na sua edificação? Que nota
você daria para a sua família hoje? A mensagem que estarei compartilhando com
vocês tem relação com as respostas para as perguntas acima.
Como a família pode ser o centro terapêutico na vida do menor infrator?
Precisamos, primeiramente,
compreender que somos pessoas que se relacionam em quatro esferas distintas, porém,
que se integram na formação individual:
1º SOMOS SERES INDIVIDUAIS
– Somos pessoas com vontades individuais, singulares, particulares e etc.
Não podemos querer que nossos
filhos sejam nossas fotocópias. Não há a possibilidade de que nossos filhos
sejam idênticos a nós; pensem como nós pensamos; respondam à vida como
reagimos. Jamais conseguiremos que nossos filhos sejam como nós. Cada indivíduo
é singular, tem sua identidade, precisa desenvolver suas características
pessoais.
2º SOMOS SERES FAMILIAR
– Pessoas com um contexto familiar, pai, mãe, filhos e etc.
Participamos desta instituição
chamada família. Nosso relacionamento imediato com o mundo acontece a partir da
nossa família. Nossa visão do mundo se estabelece também a partir da nossa
família.
3º SOMOS SERES COMUNITÁRIOS
– Pessoas que se relacionam com determinadas comunidades: igrejas, associações,
instituições e etc.
Participamos de atividades ajudará
no desenvolvimento pessoal em instituições como escola, igrejas, associações.
4º SOMOS SERES SOCIAIS
– Pessoas que se relacionam e tem responsabilidades com uma sociedade comum,
com seus conjuntos de leis e regras.
Participamos de um contexto
coletivo, de uma sociedade que dispõe de regras para o bem-viver comum.
Se nossas vidas se subdividem
basicamente nestas quatro esferas distintas, o que determina basicamente a
relação do indivíduo de forma saudável com todas elas é o seu contexto intra-familiar
e extra-familiar.
Intra-Familiar: É a relação que o indivíduo
desenvolve com os membros de sua família, dentro de sua casa, no interior da
sua casa. É o que ele aprende, como se sociabiliza, como trata o pai, a mãe, os
irmãos. É neste contexto que é formado e desenvolvido o caráter e a
personalidade do indivíduo. O que ele aprende dentro deste contexto determinará
como ele se relacionará com as pessoas e áreas fora deste contexto familiar.
Por exemplo: Vejo crianças pequenas
de quatro ou seis anos que falam palavrões. Onde eles aprenderam palavras tão
baixas? Onde eles escutaram? É o pai que pega a criança pequena e leva ela para
o bar enquanto bebe com os amigos. O que ele irá aprender? É a mãe que não
sabendo estabelecer sua autoridade, grita com os filhos e os chamam de vários
nomes (vagabunda, burra, ameaçando lhe dar uma surra, sem contar os palavrões)
utilizando este método como meio educativo.
Extra-Familiar: Neste sentido, o indivíduo se
relaciona com pessoas fora de seu contexto familiar. Porém, sua relação é
determinada pelo aprendizado intra-familiar.
Dependendo de como foi esta relação intra-familiar, o indivíduo se relacionará
de forma saudável ou não com as pessoas e entidades fora de seu contexto
familiar.
Se seu ambiente familiar foi um
ambiente opressor, abusivo, agressivo, assim será sua relação com os de fora.
Vejo muitas crianças que desenvolvem problemas sérios de relacionamento fora de
casa, porque foram vítimas de agressões, de abusos, de torturas psicológicas dentro
de casa.
Vejo adolescentes que buscam fora
de casa, na rua, junto aos pares, uma afirmação pessoal, uma aceitação, uma
identidade, justamente porque sua relação intra-familiar foi doentia e
irresponsável por parte de seus responsáveis.
Como vimos, é no seio familiar que
o indivíduo é formado.
Qual o contexto familiar que estamos formando em nossas casas?
1º BOAS INTENÇÕES NÃO SÃO SUFICIENTES
Não basta termos boas intenções em nossas famílias,
com nossos filhos. Boas intenções não educam, não formam caráter, não
desenvolvem personalidade. Boas intenções não passam de meras suposições, se
não forem colocadas me práticas. Não basta queremos que nossos filhos cresçam,
estudem, se formem na Faculdade, se tornem um homem/mulher responsável, se
estas boas intenções se transformarem em atitudes saudáveis que auxiliem no
desenvolvimento direto da vida dos nossos filhos.
2º TEMOS
QUE SER CAPAZES DE TRANSFORMAR NOSSAS BOAS INTENÇÕES EM INVESTIMENTO DE VIDA
NA EXISTÊNCIA DOS FILHOS
Temos
que ser capazes de aplicar nossas boas intenções em ações. Não podemos ficar
sonhando. Não podemos ficar inertes e ver nossos filhos crescerem e já
apresentarem desvios comportamentais e achar que isso é normal, é fase, vai
passar. Como diz o adágio popular: “De boas intenções o inferno está cheio”.
Não adianta você ter os sonhos que tem, nem apenas fazer as orações que faz,
nem apenas guardar e juntar dinheiro para o bem de seus filhos. É preciso
investir vida na vida de seus filhos.
3º NOSSAS PRINCIPAIS ÁREAS DE FRAQUEZAS SÃO
CLARAMENTE PERCEBIDAS NAS NOSSAS RELAÇÕES COM NOSSOS FILHOS
A forma
com que nos relacionamos com nossos filhos evidenciam justamente as nossas
próprias áreas de fraquezas. Talvez nós tenhamos sido vítimas de um contexto
familiar disfuncional, e fomos feridos, e agora, com nossas famílias estamos
transferindo esta ferida para os nossos filhos. Não queremos acreditar que
nossos filhos estão envolvidos com drogas, com o tráfico, imaginamos que os
culpados são os filhos da vizinha, os adolescentes da esquina, sem saber que
muitas vezes o pior dentre todos eles são os nossos filhos.
O que precisamos compreender então para
construirmos uma família saudável?
1º NÃO PODEMOS TRANSFERIR RESPONSABILIDADES
INTRANSFERÍVEIS
Minha
pergunta a você é: pra quem é que você
está transferindo a responsabilidade de administrar a alma de seus filhos? Para
o avô? Para os filhos mais velhos? Para a escola? Para a Fundação CASA? Para a
rua? Para quem? Para a diretora da escola?
Essa
responsabilidade é intransferível. O filho é seu. A filha é sua. A alma deles
vai ser cobrada de você. De que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e
perder a alma de seu filho? De que adianta viver trabalhando incansavelmente
pra trazer sustento para casa, mas ter uma filha desgraçada ou um garoto
arruinado em casa, viciado em drogas, envolvido com o tráfico e com o crime?
2º TEMOS QUE TER A CORAGEM DE CONFRONTAR NOSSOS FILHOS
Creio
que não haja pais ou mães cegos; no entanto, há pais e mães que não querem ver,
que têm medo de encarar o filho e o problema, que têm medo de confrontar os
filhos com a verdade, que têm medo de não saber como conduzir o problema, de
como ajudar a solucionar.
Temos
que ter a coragem de estabelecer limites para nossos filhos. Limites saudáveis,
com o cuidado com suas vidas. Temos que tomar as rédias das nossas famílias.
Enquanto ficarmos achando que o culpado é o traficante da esquina, que é má
influência dos amigos, que é fase de rebeldia, nossos filhos se desgraçarão,
passarão a infância e adolescência internados em uma Fundação CASA, e
correremos o risco ver a vida de nossos filhos serem ceifadas prematuramente. E
quando isso acontecer, não haverá justificativas para ficar chorando em cima do
caixão de seu filho, culpando Deus e o mundo, dizendo que é injustiça.
Tenha
uma atitude hoje e agora, enquanto ainda há tempo. Enquanto seu filho ainda é
menor, enquanto ele ainda mora debaixo do seu teto, enquanto você ainda é o
provedor de sua casa.
Eu não
tenho receitas para soluções de problemas familiares, mas, em qualquer caso, a
omissão não vai resolvê-los, o tempo não vai solucioná-los.
Por que
temos receio de confrontar nossos filhos? Medo? Talvez culpa? Culpa por saber
que não fomos os pais que deveríamos ser? Por saber que deixamos eles crescer
sem limites? Que não disciplinamos quando necessário? Que mimamos demais nossos
filhos?
No
fundo, sabemos que grande parte da responsabilidade de nossos filhos estarem
onde estão hoje, é nossa enquanto pais e responsáveis.
No
início, falamos que esta realidade se tornou como MALDIÇÃO em nossas vidas e na sociedade.
Eu gostaria de compartilhar com vocês um
texto bíblico que diz que existe uma maneira desta maldição não assolar nossas
famílias: “... quando o coração do pai se converter ao seu filho, e coração do
filho se converter ao seu pai, Deus extinguirá a maldição da Terra”. (Malaquias
4:6)
Que Deus possa ajudá-los a expurgar as amarguras da alma, a
exorcizar o prazer sádico da vingança, o masoquismo da autocomiseração. Que
Deus os ajude a enxergar o valor da família, a preciosidade da relação ente um
pai e um filho, entre uma mãe e uma filha. Que você possa dar valor não ao que
tem dentro de casa, mas dar valor ao que você pode construir dentro dela.
1. Não
podemos transferir responsabilidades intransferíveis.
2. Nós não
queremos ser capaz de vencer o mundo, mas não saber confrontar os filhos, olho
no olho.
3. Não queremos minimizar o poder das
amarguras familiares.
4. Não queremos brincar com o ódio existente dentro de casa, queremos dar a devida
atenção.
5. Não
queremos reagir aos conflitos apenas emocionalmente.
Quando
pais se converterem aos seus filhos, filhos se converterem aos seus pais,
maridos se converterem a suas esposas, esposas se converterem a seus maridos,
quando você deixar o ódio cair por terra e Deus encher o seu coração de amor,
de perdão e de reconciliação, a maldição estará quebrada na terra.
Gostaria de parabenizar as famílias que estão
procurando ajuda orientação para seus problemas familiares juntamente com as
técnicas.
Uma boa noite à todos vocês!
Juliano Marcel
28/09/2012

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