quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Cristianismo ou Cristicidade?

Infelizmente o cristianismo destes últimos dias tem deixado muito a desejar. Primeiro porque perdeu seu significado. Segundo porque no decorrer dos anos – são dois mil anos na terra – ofuscou-se sua visão, perdendo então seu foco, seu significado e sua essência.
O cristianismo hoje é visto por muitos como um dos meios mais sujos e corruptos da humanidade. Errados? Não! Nosso testemunho tem sido de vergonha, não temos o direito de arrogar-se a si mesmo o nome de “cristão” um vez que não agimos como os conhecidos “cristãos” do Coliseu, que não negando sua fé em Jesus, abriram mão das suas próprias vidas pela causa de Cristo.

Nós, ao contrário, abrimos mão de Jesus em prol da nossa vida; da nossa estabilidade, da nossa comodidade, do nosso bem-estar, da boa colocação social, da projeção sobre a média, do lugar de destaque, do dinheiro fácil, das riquezas às custas dos mais simples e ignorantes; enfim, mesmo confessando Jesus com a boca, somos capazes de negá-lO com nossas atitudes, escolhas, decisões, comportamentos e com a nossa própria vida.

Afinal, somos cristãos ou não?

Dentro deste contexto maléfico, o que me resta, é abrir mão do “cristianismo-histórico-cultural” – ou como muitos chamam, o ser “evangélico” – para ser de Cristo em minha totalidade.

Abro mão das heranças religiosas herdadas pelo “cristianismo” para ser de Cristo com todas as víceras do meu ser.

E nesse abdicar do “cristianismo”, abro espaço para ser crístico em Cristo.

Se faz necessário então entender o que é ser crístico!?

Quero emprestar a definição de um companheiro – Huberto Rohden – para adotar este sinônimo: CRISTICIDADE ou CRÍSTICO deriva-se da palavra Cristo; crístico, logo é aquele que em si carrega o significado e a essência derivado do Cristo. Aquele que compartilha da essência do Cristo.

Para que você possa entende, nessa definição podemos dizer que o apóstolo Paulo era crístico porque entendeu que ao aceitar a Cristo como Senhor de sua vida, e ao conscientizar-se do significado da Cruz, escreveu que ele já não era somente ele mesmo, mas sim, ele era ele sendo em Cristo – e nos dizendo de outras tantas formas: ora, “já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim”; “Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo?”... e tantos outras passagens que fala sobre o “ser crístico” - que carrega Cristo no centro do ser, de modo que já não se percebe independente, mas se percebe incluído, arraigado e plantado em Cristo.

Assim, entendemos que:

Cristão é aquele que carrega os traços do cristianismo histórico, com performances do protestantismo; Crístico é aquele que carrega o significado da cruz no ser, e do Evangelho na vida.

O cristão se atenta para o exterior; o crístico sabe que a vida exterior é o resultado da entrega da interioridade a Cristo.

O cristão precisa de santificação por meio de formas; o crístico se sabe santificado por meio de Cristo, e sabe que santificação é fruto de uma vida de entrega ao total controle do Espírito do Senhor.

O cristão precisa de um lugar geográfico para cultuar ao seu deus; o crístico sabe que sua vida é um altar móvel cuja Santo-dos-Santos é o seu próprio coração, um lugar de sacrifício constante de adoração ao verdadeiro Deus.

O cristão entende que sua vida só deu fruto se “ele” levou alguma alminha oprimida aos pés de Jesus; o crístico entende que os frutos não se reduz à salvação de almas, porém, são todas as expressões exteriores de bondade, de assistência, de generosidade, do estender a mão em direção ao próximo.

O cristão pensa que Deus só o percebe quando na “igreja” ele ora dizendo: “Senhor ‘entramos’ agora em Tua presença....”; o crístico sabe que sua vida é um total flagrante diante de Deus, de forma que se percebe na presença de Deus a todo o momento – “onde me esconderei de sua face? Onde quer que eu for Tu lá estarás” disse o salmista.

O cristão tem dias e horas marcados para a operação de Deus – como se isso fosse possível – , de forma que se na segunda é culto de libertação, Deus não pode derramar o Seu Espírito, e se no domingo é culto da família, Deus não pode libertar – é como os fariseus diziam “... existem outros dias para serem curados, venham em outras reuniões e não no sábado...”; porém, o crístico sabe que todos os dias é dia oportuno para o agir de Deus, de modo que nenhum homem pode regular a agenda de Deus, uma vez que Deus não tem agenda pré-determinada para sua atuação na humanidade.

O cristão precisa se limitar ao não toque, não fale, não esteja com aquele, não bebas isso, não se vista daquele modo; já o crístico sabe que “tudo é permitido”, porém nem
tudo é proveitoso. Sim, “todas as coisas são lícitas”, contudo nem todas são edificantes, de modo que quem se percebe de Deus, sabe o seu próprio limite.

O cristão precisa de tutores, de aios e de mentores – pastores, bispos e apóstolos – que o controle e o dirija na vida, ditando regras e o direcionando em como devem andar; o crístico sabe que em Cristo já não precisamos de aio, de tutores, de modo que quem quer viver o Evangelho, olha pra Jesus e seu Caminho na terra, e o imita, de modo que o único pastor é o Bom Pastor, que deu Sua vida pelas Suas ovelhas.

(Entenda que há o que chamo de extrapolação de liderança, sendo que existem líderes que se acham os únicos mediadores entre Deus e os homens, alguns arrogam a si o direito de dar uma cobertura seja “pastoral” ou “apostólica” sobre outros, porém a única cobertura que está sobre mim, é a do Sangue do Cordeiro que tira o pecado do mundo, e tenho pessoas com as quais tenho relacionamento e que os tenho como referência, me submetendo à sua autoridade pastoral por entender que são homens verdadeiramente comprometidos com o Evangelho.)

O cristão tem um senso de justiça própria que o diferencia dos demais, sendo que são capazes de exercer juízos sobre outras pessoas determinando grau de santidade, de justiça e de pecaminosidade, e impondo disciplinas e exclusões sob a justificativa de se estar sendo criterioso-ético-e-moralmente correto conforme a Bíblia; o crístico olha para os outros a partir dele mesmo, percebe nos outros alguém que é falho como ele é falho, e que se ele foi perdoado, logo, ele pode perdoar.

Enfim, o crístico sabe que apesar dos “cristãos”, todos somos filhos de Deus. Todos pecaram, e todos destituídos estão da glória de Deus.

Logo, quem se percebe incluído em Cristo, inclui outros sem distinção. Quem se percebe amado por Deus sendo ainda pecador e não merecedor, ama outros com o mesmo amor com a qual é amado. Quem se percebe perdoado por meio da Cruz e do Sangue de Cristo, perdoa ao próximo como por Ele foi perdoado. Quem se percebe um filho da misericórdia, alguém cuja dívida impagável foi paga por meio do Sangue de Cristo, e Nele ainda sendo injusto foi feito justo e justificado por meio de sua Cruz, estende esta misericórdia ao próximo pois se sabe um filho da Graça sendo gracioso para com o seu próximo.

Quem se percebe posto no único Caminho que gera Vida por graça, e não pelas suas obras, é capaz de aceitar que outros sejam posto neste mesmo Caminho independentemente de quem são, permitindo que o Caminho gere Vida nele conforme a Verdade de Deus pra nós.

Sendo assim, abro mão de ser este “cristãozão” conforme vemos os ridículos exemplos de várias formas expressadas em atitudes, confissões, comportamentos, palavras, e falcatruas, para ser crístico em Cristo.

Vivendo o verdadeiro significado do Evangelho pra nós, no chão da vida, não se limitando apenas num espaço geográfico, e sim sendo Evangelho onde quer que estejamos, na rua, em casa, no trabalho, na escola, na urna de eleição, na internet, com a esposa, com o marido, com os filhos, com os pais, com os amigos, até mesmo dentro da “igreja” – porque não!? rsrsrs....

Quero deixar claro que nomenclatura não designa ninguém como seguidor ou não de Cristo. Aqueles que andaram com Jesus foram conhecidos e chamados de discípulos somente. Logo, não estou inventando nada, a não ser, apenas questionar a ironia de quem faz da nomenclatura seu referencial; quem faz da nomenclatura seu modo de vida; quem faz da nomenclatura um standart de guerra; quem faz da nomenclatura uma licença para auto-denominar outros como filhos do diabo e predestinado ao inferno por seu senso de justiça própria.

Assim, convido você a reavaliar sua fé. Onde você tem o seu referencial, qual significado tem tido a sua existência. Qual definição tem sido a marca do seu caminhar na vida: cristão ou crístico?

Pense nisso!

Juliano Marcel
27/11/08
Bragança Paulista-SP
juliano.marcel@ymail.com
http://www.julianomarcel.blogspot.com/

*Nota: Não estou fundando uma seita religiosa, nem escrevendo uma heresia, apenas convidando você a refletir sobre o significado da sua fé, e como você tem vivido. Crístico é apenas uma definição secundária para o mesmo ser que confessa Jesus como Senhor e Salvador da sua vida, e Nele, vive a vida com Graça conforme o Evangelho.




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E os do Caminho...

... têm que ser apenas gente andante, seguindo a Jesus com outros, cada um com seu nível de compreensão e percepção, porém todos desejosos de aprenderem a Cristo, conforme Jesus no ensinou ser o caminho de gente que busca se tornar semelhante a Ele.

Este é o convite aos do Caminho: tornarem-se semelhantes a Jesus no curso da jornada da fé; dia a dia sendo transformados de glória em glória; até que se vá chegando à estatura do Novo Homem, o qual se renova segundo Deus mediante a pratica do amor e da verdade.

Assim que é! Vem & vê!

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