quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A síndrome do hipocritismo

Postei alguns dias atrás aqui no blog um e-mail que recebi de um querido do Rio de Janeiro, onde ele me questionava sobre o conteúdo daquilo que prego e escrevo, como não sendo da parte de Deus, e sim, filosofia gospel. Nas minhas respostas pode-se perceber que em todo o momento eu defendi aquilo que creio, e aquilo que diz respeito ao conteúdo do Evangelho, e a própria imagem de Deus revelado em Jesus, e aquilo que significava o conceito de Deus para-e-em Jesus.

Mas ao analisar as respostas dele, suscitou em mim o interesse por analisar de forma meticulosa as suas palavras, e o conceito de cristianismo revelado nele, e aquilo que ele entende como procedência pessoal para com a fé cristã, e a aplicação dessa consciência em seu dia-a-dia, e naquilo que ele fala, escreve e prega.

O que se encontra em suas palavras, é o que se encontra na mente da maioria dos “cristãos” no Brasil. Um cristianismo chulo, fraco, superficial, e principalmente egocêntrico.

Egocentrismo, diferentemente daquilo que entendemos, representa a exacerbação de si-mesmo, a projeção pessoal sobre outros, ou ainda, centrar todos os esforços de se afirmar como indivíduo em si mesmo. Daí a origem da palavra egocentrismo – ego-centrismo, centrar-se em si mesmo.

Isso gera a presunção e arrogância. Na verdade esconde um indivíduo em conflito essencial, e tal conflito é facilmente identificável: a presunção e pusilanimidade descrevem a insegurança no que concerne seus limites para consigo mesmo e sobre os outros.

Na verdade, o que ocorre é uma compensação psíquica e, considerando o fato desta compensação, a grande humildade – aparente – aproxima-se demais do orgulho e “o orgulho precede a queda”, descobre-se então facilmente, atrás da presunção, certos traços de um temeroso sentimento de inferioridade.

Com efeito, podemos ver com nitidez como a falta de segurança induz o exaltado – o egocêntrico – a apregoar suas verdades, de cuja validez ele é o primeiro a duvidar e se contradizer; faze-se então prosélitos, estes podem provar-lhe o valor e a exatidão de suas próprias convicções, e quando contestado, exacerba-se os ânimos e a resposta é a agressividade sobre alguém que descorde de suas opiniões e conceitos pessoais.

O que ocorre então com este indivíduo é o mascaramento desta realidade em si – uma vez que o egocêntrico nega esta realidade em si mesmo – projetando um ar de superioridade e firmeza conforme afirma a sua própria opinião de si mesmo, e daquilo que afirma ser verdade para ele próprio.

O nome científico que Carl Jung usa para tal fenômeno é “inflação psíquica”, e a máscara é “persona”.

Biblicamente, se dá o nome de hipocrisia. Por não encontrar uma palavra exclusiva para usar aqui, eu criarei uma palavra para usar aqui, é o hipocritismo (uma definição ‘julianística’) – hipócrita. É o indivíduo que se esconde atrás desta máscara – persona – e projeta sobre os outros um ar de superioridade e egocentrismo, porém a realidade em si é totalmente contrária àquela apresentada aos outros, pois dentro de si compreende-se a extrema fragilidade, medos, inseguranças e inferioridade.

Hipócrita é aquele que se passa por uma pessoa extremamente certa em todos os aspectos.

Hipócrita é aquele que não aceita ser contestado.

O hipócrita estremece diante da possibilidade de desagradar os outros.

Hipócritas são fanáticos por aprovação. Hipócritas tem o hábito de se comprometer demais com pessoas, projetos, causas, dogmas, doutrinas, status e com seu ego.

Hipócritas ocultam e disfarçam os verdadeiros sentimentos para conseguir o que querem.

Hipócritas são levados por um desejo compulsivo de parecer perfeitos. E a menor possibilidade de sua imperfeição ser manifestada, é compensada com uma atitude de agressividade. Eles esperam que todos os admirem, mas ninguém os conheça de verdade.

O hipócrita, até onde ele sabe, é aquilo que ele faz. Daí eles lutarem para permanecer em um lugar de destaque, não importando como e sobre quem tenham que passar para conseguir chegar e permanecer lá.

Quanto mais prestígio alcança, mais hipócrita se torna.

O hipócrita confere importância ao que não tem importância e valoriza o que tem pouco conteúdo para nos desviar da verdade e da realidade. Daí tais pessoas – inclusive o amigo que me escreveu – valorizar tanto a opinião própria dentro de um conceito antigo e humanista desassociado da verdade da Palavra.

O Hipócrita é muito semelhante ao que o álcool representa para o alcoólico – ele é capcioso, sutil, poderoso, intoxicante e traiçoeiro.

O hipócrita preocupa-se com a aparência. Daí eles valorizarem performances e exterioridades, pois, os coloca em destaque. Já que não se é, parecer, parece ser a melhor opção.

O hipócrita exige atenção.

Para o hipócrita, a questão não está em ganhar ou perder, mas “em como” ele está jogando.

Os hipócritas constroem sua identidade não apenas com base nas conquistas, mas também nas relações parasitárias. Politicagem é o nome. (Um dia ouvi de um determinado pastor muito admirado no Brasil, que na época se envolveu em uma determinada questão onde ele estava apoiando o lado da verdade, e sua atitude tinha feito com que as portas para grandes eventos foram fechados para ele, devido sua atitude contrária a um outro pastor de renome também. Ele disse, após refletir sobre as implicações em manter sua palavra: “Não posso ficar contra este cara hoje, não neste momento, porque ele é o cara do momento, e será bom para mim ficar ao seu lado”. Então, preferiu macular sua integridade, se submetendo ao sistema, humilhadamente pediu perdão em público, e parasitamente está sugando o que pode da presente situação que se encontra ao lado deste outro.)

Para os hipócritas, neste sentido, relacionamentos são conquistas.

Hipócritas procuram se relacionar com pessoas que os fazem parecer melhores do que são. É o status quo.

Hipócritas são incapazes de cultivar a intimidade verdadeira em qualquer relacionamento. Seu amor próprio exclui os outros. Ele se torna muito menos sensível ao jeito, às necessidades e aos sonhos de outras pessoas. O toma-lá-dá-cá está fora de cogitação. Quer tenha consciência disso, quer não, o hipócrita só dá se puder tomar.

O hipócrita tem pavor da solitude porque de alguma forma sabe que, se ficar em silêncio, acabará descobrindo que não é nada. Não lhe restaria nada, a não ser a constatação de que não é nada. Para o hipócrita que alega ser todas as coisas, uma descoberta deste tipo seria mortal.

E grande parte dos cristãos vivem esta síndrome do hipocritismo (uma definição julianística) em suas vidas.

O hipócrita é a revelação da religiosidade dos fariseus. Hoje dentro do cristianismo encontramos muitos fariseus contemporâneos, como o nosso amigo que me escreveu do Rio de Janeiro. Pensam que vivendo o hipocritismo podem alcançar algum lugar ao sol. Eles não aceitam contestações, contrariações, e questionamento a respeito daquilo que falam e ensinam. Querem ser aprovados, e aplaudidos em tudo e por todos.

O hipocritismo tem sido pregado dentro das igrejas. E com ele, a distorção da palavra de Deus, e do conceito real revelado em Jesus do que significa o Evangelho e o Reino de Deus.

Assim, gostaria que você refletisse sobre as diversas características que listei aqui sobre o hipocritismo – ou seja, o hipócrita – e analisasse sua vida para ver se em sua maneira de ser e fazer a vida, não tem deixado com que o sentimento do hipócrita seja o determinador de suas atitudes e comportamento.

Pense nisso!

Na graça Dele, o qual despojou o hipócrita que havia em mim quando me fez olhar para mim mesmo e para o meu estado, acolhendo-me em amor, e me ensinando a ser quem verdadeiramente sou Nele – eu mesmo mergulhado na graça Dele.

Juliano Marcel
Bragança Paulista – SP
15 de agosto de 2008
juliano.marcel@ymail.com
www.julianomarcel.blogspot.com


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